Allende - Última aula


Aula do dia 05/05



A formação do relevo e as principais unidades de relevo brasileiro

 
Nas últimas aulas estudamos sobre a composição do planeta Terra e a formação e configuração atual dos continentes, decorrente dos movimentos das placas tectônicas. Esses movimentos de convergência e divergência das placas tectônicas resultam na formação de diferentes tipos de relevo, como as cadeias montanhosas, mas não são os únicos fatores responsáveis por esse processo. Outro processo essencial para a formação do relevo é o intemperismo.
O intemperismoé o processo geral pelo qual as rochas são destruídas na superfície da Terra. Produz todas as argilas, todos os solos e as substâncias dissolvidas e carregadas pelos rios e oceanos” (Para Entender a Terra, p. 172).
Abaixo algumas imagens de paisagens geradas pelo intemperismo:



Pedra Furada, Jericoacoara - CE


Esse processo ocorre de dois modos:

Intemperismo físico: ocorre quando a rocha sólida é fragmentada por processos mecânicos que não alteram sua composição química.




Intemperismo químico: ocorre quando os minerais de uma rocha são quimicamente alterados ou dissolvidos.

É importante lembrar que ambos os modos ocorrem ao mesmo tempo e se reforçam mutuamente, já que a decomposição química deteriora os fragmentos das rochas e torna-os mais suscetíveis ao rompimento. Quanto menores os blocos produzidos pelo intemperismo físico, maior será a superfície disponível para a ação do intemperismo químico.
Os principais fatores que interferem na maior ou menor intensidade do intemperismo são (1) as propriedades da rocha matriz, já que apresentam maior ou menor resistência devido a sua composição química, como os granitos; (2) o clima, que irá determinar o regime de chuvas e a temperatura; (3) a presença de solo, pois os vegetais e bactérias ali presentes podem acelerar o processo; e (4) o tempo de exposição da rocha.
Para que o intemperismo químico ocorra, ou seja, a dissolução dos minerais, é necessária a presença  constante da água. Por esse motivo, nas regiões em que o clima é mais quente e úmido, como no Brasil, o intemperismo químico ocorre com maior intensidade em relação ao intemperismo físico. As temperaturas elevadas aceleram as reações químicas e, portanto, aceleram a decomposição da rocha.  Já nos climas mais secos, como nas regiões de desertos, o intemperismo físico atua com mais intensidade. A elevada amplitude térmica diária, ou seja, a alternância de calor e frio, fragiliza as rochas, propiciando sua fragmentação. 




Outro fator importante que contribui para o intemperismo tanto físico quanto químico é a ação dos organismos presentes no solo. As bactérias e algas penetram nas fraturas, produzindo microfraturas. Esses organismos produzem ácidos que promovem o intemperismo químico, aumentando essas microfraturas e permitindo a penetração de raízes e outros pequenos animais, que podem quebrar a rocha.


Microrganismos intemperizando quimicamente a rocha



Raízes de uma árvore penetrando nas fraturas da rocha, provocando ainda mais fraturas (intemperismo físico) e sua decomposição, devido a ação dos microrganismos presentes nas raízes (intemperismo químico)


A água, apesar de propiciar o intemperismo químico, também pode gerar intemperismo físico, seja pelo acunhamento do gelo (fragmentação resultante da expansão da água ao congelar), pelo escavamento do substrato rochoso dos vales pelos rios ao carregarem partículas sólidas e quedas d'água.


 Água se acumula na rocha, intemperizando-a quimicamente de forma local, o que resultou em pequnas "poças" na superfície da rocha


Acunhamento do gelo



Há ainda um último fator que interfere na intensidade e tipo de intemperismo atuante nas rochas: o relevo. Áreas com maior declividade tendem a ter maior atuação do intemperismo físico, enquanto que áreas mais planas tendem a ter maior atuação do intemperismo químico. Isso ocorre porque declividade acentuada dificulta a penetração da água e facilita seu escoamento. Dessa forma, a água proveniente das chuvas irá se infiltrar em maiores proporções nas áreas planas, possibilitando as reações químicas que degradam a rocha.





O intemperismo é também um importante processo para a formação dos solos, que nada mais são que rochas decompostas. Utilizando a mesma lógica de relação entre o clima e a intensidade do intemperismo, podemos aferir que quanto mais quente e úmida for a região, mais profundo será o solo, pois será mais intensa a ação do intemperismo.


Nesse gráfico é possível perceber que quanto maior a precipitação e a temperatura, mais profundo será o solo, pois nessas regiões o intemperismo ocorrerá de forma mais intensa.


Outras paisagens formadas pela ação do intemperismo:

Blue John Canyon - EUA
Esculpido principalmente pelo vento, que ao carregar pequenas partículas, como a areia, vai arranhando a rocha


Vale da Lua, Chapada dos Veadeiros - GO
Esculpido principalmente pela água


Grand Canyon - EUA
Também esculpido principalmente pela água, nesse caso de um rio. Percebam a diferença de altitude entre o lugar em que o rio passa e o seu entorno.


Há uma diferença entre os processos de intemperismo e erosão. Enquanto o primeiro é responsável por fragmentar e "destruir" a rocha, a erosão é a responsável por carregar esses fragmentos para outros locais, principalmente através da água. Abaixo algumas imagens de paisagens resultantes de erosão:






As unidades do Relevo Brasileiro

Os estudos acerca da estrutura e da forma do relevo brasileiro datam da década de 1940, com o professor Aroldo de Azevedo, que, considerando as cotas altimétricas, definiu planaltos como terrenos mais acidentados, e planícies como superfícies planas, dividindo o território brasileiro segundo essa classificação.
Em 1958, o geógrafo Aziz Ab’Saber  publicou um trabalho propondo alterações nas definições das formas de relevo brasileiras.  Assim, tem-se:
Planalto: área em que os processos de erosão superam os de sedimentação.  As unidades dos planaltos brasileiros são divididas em planaltos em bacias sedimentares (onde se encontram os relevos escarpados de cuestas), planalto Amazônico oriental, planaltos e chapadas da Bacia do Parnaíba (planalto de Borborema) e planalto da bacia do Paraná como destaques.
Planície: área mais ou menos plana em que os processos de sedimentação superam os de erosão, independente das cotas altimétricas. No território brasileiro encontra-se a planície do Rio Amazonas e as planícies e tabuleiros litorâneos, entre outras.




Professor Aziz Ab'Saber (1924-2012)


Quase trinta anos depois da classificação de Aziz, Jurandyr Ross divulgou uma nova classificação do relevo brasileiro, baseando nos estudos de Ab’Saber e em imagens de radar. Assim, Ross acrescentou mais uma forma de relevo brasileiro: as depressões.





Depressão: área de relevo aplainado, rebaixado em relação ao seu entorno. Nele predominam processos erosivos. Extensas, no território brasileiro podemos destacar a depressão da Amazônia ocidental e Depressão sertaneja e do São Francisco. As depressões podem ser: relativa, quando representa uma área da superfície localizada em altitude inferior à das regiões próximas ou absoluta, quando está abaixo do nível do mar. Elas podem ser formadas de várias maneiras: por deslocamento do terreno, remoção de sedimentos, dissolução de rochas ou até por queda de meteoritos.



Mapa das unidades de relevo, elaborado por Jurandyr Ross, professor de geomorfologia do Departamento de Geografia da USP


Os compartimentos mais significativos do relevo brasileiro se originaram ao longo da era cenozóica, quando houve o soerguimento da plataforma sul-americana e intensos processos erosivos nas bordas das bacias sedimentares.




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